A IGREJA DA AMÉRICA LATINA
Seg, 23 de
Setembro de 2013 08:18 por: cnbb
Dom Demétrio Valentini
Bispo de Jales (SP)
Bispo de Jales (SP)
Dentro de poucos dias, no início
de outubro, vai se reunir a Comissão de Cardeais, nomeada pelo Papa Francisco,
para ajudá-no no governo da Igreja.
Sua composição obedeceu ao
critério de representatividade. Todos os cinco continentes estão incluídos. Mas
chama a atenção o fato do continente americano ter três representantes, sendo
dois da América Latina.
Sendo o Papa latino-americano,
resulta evidente uma constatação, que vai se confirmando sempre mais. A Igreja
da América Latina está sendo colocada em destaque.
Em primeiro lugar pelo próprio
fato do papa ser latino-americano. Não é por acaso que isto aconteceu. Sua
atuação surpreendente aguça a curiosidade de muitas pessoas que procuram entender
o que levou a Igreja da América Latina a oferecer um papa tão surpreendente
como está sendo o Papa Francisco.
Por sua vez, o próprio Papa vem
demonstrando uma intenção de colocar a serviço de toda a Igreja, valores que
são próprios da Igreja da América Latina.
Esta empreitada do Papa
Francisco, de valorizar a caminhada de nossa Igreja, se realiza em três
frentes.
Em primeiro lugar, recorrendo à
fecunda experiência eclesial da Conferência de Aparecida, realizada em 2007,
onde o então Cardeal Bergoglio teve atuação destacada, como coordenador da
equipe de redação. Não é exagerado afirmar que a Conferência de Aparecida foi a
experiência eclesial mais forte, vivida pelo Cardeal Bergoglio antes de ser
eleito papa.
Não é por acaso que, vindo para o
Rio de Janeiro para o encontro mundial com os jovens, o Papa Francisco fez
questão de vir também para o Santuário de Aparecida, onde se realizou a
Conferência. Vindo ao encontro dos jovens do mundo, ele quis encontrar também a
jovem Igreja Latino Americana, que agora é convidada a oferecer seu dinamismo
juvenil, para que a Igreja retome vigor, especialmente lá onde ela parece mais
extenuada pelo peso dos séculos.
Outra frente de valorização da
Igreja da América Latina se constitui no empenho de superação de preconceitos e
de temores, provenientes da maneira de fazer uma teologia que servisse de
suporte para a caminhada pastoral, sobretudo das comunidades eclesiais.
E´ muito significativo o fato do
jornal oficial do Vaticano, o L´Osservatore Romano, ter publicado nestes dias
diversos textos do famoso teólogo Gustavo Gutierrez, tido como fundador da
“Teologia da Libertação”. Durante muito tempo pairaram suspeitas sobre
possíveis equívocos que esta teologia poderia suscitar. O fato pode agora ser
tido como positivo, pois forçou os teólogos a uma dupla atenção, para aprimoram
sua produção teológica, que finalmente para a ser mais reconhecida pela própria
Igreja.
Uma terceira frente, em favor da
valorização do testemunho cristão e eclesial da América Latina, está na decisão
do Papa Francisco, de retomar o processo de canonização de Dom Oscar Romero,
martirizado em 1980, no auge dos confrontos políticos e sociais existentes
então em quase todos os países da América Latina.
Por pressões políticas, este
processo de canonização tinha sido arquivado. Agora o Papa Francisco ordenou
que fosse retomado com urgência.
São sinais dos tempos. A Igreja
ganhou não só um papa, vindo do “fim do mundo”, como ele mesmo falou, e como na
prática os europeus continuam olhando para nós. Mas o novo Papa traz consigo a
rica caminhada da Igreja da América Latina, que ele deseja colocar ao alcance
de todos.
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