Domingo, 27 Abril 2014 11:50 cnb
De acordo com informações da agência de
notícias do Vaticano, VIS, meio milhão de pessoas assistiram hoje, 27, na Praça
de São Pedro, à cerimônia de canonização dos papas João XXIII e João Paulo II,
e cerca de trezentas mil acompanharam o evento pela telas gigantes distribuídas
na cidade de Roma.
Estiveram presentes na cerimônia
delegações oficiais de mais de cem países, mais de vinte chefes de Estado e
personalidades do mundo da política e da cultura.
O papa emérito Bento XVI concelebrou
com o papa Francisco, que antes de proceder ao rito da proclamação dos novos
santos, dirigiu-se a Bento XVI para abraçá-lo.
Logo após, acompanhado do prefeito da
Congregação para a Causa dos Santos, cardeal Angelo Amato, e dos postuladores
das causas, o papa Francisco pronunciou a fórmula de canonização: “Em honra à
Santíssima Trindade para exaltação da fé católica e crescimento da vida cristã,
com a autoridade de Nosso Senhor Jesus Cristo, dos Santos Apóstolos Pedro
e Paulo e a nossa, Depois de haver refletido profundamente, invocando muitas
vezes a ajuda divina e ouvido o parecer de numerosos irmãos no episcopado,
declaramos e definimos santos os beatos João XXIII e João Paulo II e os
inscrevemos no Catálogo dos Santos, e estabelecemos que em toda a Igreja sejam
devotamente honrados entre os Santos. Em nome do Pai, do Filho, do Espírito
Santo”.
Após a leitura do Evangelho, Francisco
proferiu a homilia, que segue abaixo, na íntegra:
HOMILIA DO PAPA FRANCISCO
II Domingo de Páscoa (ou da Divina Misericórdia), 27 de abril de 2014
No centro deste domingo, que encerra a
Oitava de Páscoa e que São João Paulo II quis dedicar à Misericórdia Divina,
encontramos as chagas gloriosas de Jesus ressuscitado.
Já as mostrara quando apareceu pela
primeira vez aos Apóstolos, ao anoitecer do dia depois do sábado, o dia da
Ressurreição. Mas, naquela noite – como ouvimos –, Tomé não estava; e quando os
outros lhe disseram que tinham visto o Senhor, respondeu que, se não visse e tocasse
aquelas feridas, não acreditaria. Oito dias depois, Jesus apareceu de novo no
meio dos discípulos, no Cenáculo, encontrando-se presente também Tomé;
dirigindo-Se a ele, convidou-o a tocar as suas chagas. E então aquele homem
sincero, aquele homem habituado a verificar tudo pessoalmente, ajoelhou-se
diante de Jesus e disse: «Meu Senhor e meu Deus!» (Jo 20, 28).
Se as chagas de Jesus podem ser de
escândalo para a fé, são também a verificação da fé. Por isso, no corpo de
Cristo ressuscitado, as chagas não desaparecem, continuam, porque aquelas
chagas são o sinal permanente do amor de Deus por nós, sendo indispensáveis
para crer em Deus: não para crer que Deus existe, mas sim que Deus é amor,
misericórdia, fidelidade. Citando Isaías, São Pedro escreve aos cristãos:
«pelas suas chagas, fostes curados» (1 Ped 2, 24; cf. Is 53, 5).
São João XXIII e SãoJoão Paulo II
tiveram a coragem de contemplar as feridas de Jesus, tocar as suas mãos
chagadas e o seu lado trespassado. Não tiveram vergonha da carne de Cristo, não
se escandalizaram d’Ele, da sua cruz; não tiveram vergonha da carne do irmão
(cf. Is 58, 7), porque em cada pessoa atribulada viam Jesus. Foram dois homens
corajosos, cheios da parresia do Espírito Santo, e deram testemunho da bondade
de Deus, da sua misericórdia, à Igreja e ao mundo.
Foram sacerdotes, bispos e papas do
século XX. Conheceram as suas tragédias, mas não foram vencidos por elas. Mais
forte, neles, era Deus; mais forte era a fé em Jesus Cristo, Redentor do homem
e Senhor da história; mais forte, neles, era a misericórdia de Deus que se
manifesta nestas cinco chagas; mais forte era a proximidade materna de Maria.
Nestes dois homens contemplativos das
chagas de Cristo e testemunhas da sua misericórdia, habitava «uma esperança
viva», juntamente com «uma alegria indescritível e irradiante» (1 Ped 1, 3.8).
A esperança e a alegria que Cristo ressuscitado dá aos seus discípulos, e de
que nada e ninguém os pode privar. A esperança e a alegria pascais, passadas
pelo crisol do despojamento, do aniquilamento, da proximidade aos pecadores
levada até ao extremo, até à náusea pela amargura daquele cálice. Estas são a
esperança e a alegria que os dois santos Papas receberam como dom do Senhor
ressuscitado, tendo-as, por sua vez, doado em abundância ao Povo de Deus,
recebendo sua eterna gratidão.
Esta esperança e esta alegria
respiravam-se na primeira comunidade dos crentes, em Jerusalém, de que falam os
Atos dos Apóstolos (cf. 2, 42-47), que ouvimos na segunda Leitura. É uma
comunidade onde se vive o essencial do Evangelho, isto é, o amor, a
misericórdia, com simplicidade e fraternidade.
E esta é a imagem de Igreja que o
Concílio Vaticano II teve diante de si. João XXIII e João Paulo II colaboraram
com o Espírito Santo para restabelecer e atualizar a Igreja segundo a sua
fisionomia originária, a fisionomia que lhe deram os santos ao longo dos
séculos. Não esqueçamos que são precisamente os santos que levam avante e fazem
crescer a Igreja. Na convocação do Concílio, São João XXIII demonstrou uma
delicada docilidade ao Espírito Santo, deixou-se conduzir e foi para a Igreja
um pastor, um guia-guiado, guiado pelo Espírito. Este foi o seu grande serviço
à Igreja; por isso gosto de pensar nele como o Papa da docilidade ao Espírito
Santo.
Neste serviço ao Povo de Deus, São João
Paulo II foi o Papa da família. Ele mesmo disse uma vez que assim gostaria de
ser lembrado: como o Papa da família. Apraz-me sublinhá-lo no momento em que
estamos a viver um caminho sinodal sobre a família e com as famílias, um
caminho que ele seguramente acompanha e sustenta do Céu.
Que estes dois novos santos Pastores do Povo de Deus intercedam pela
Igreja para que, durante estes dois anos de caminho sinodal, seja dócil ao
Espírito Santo no serviço pastoral à família. Que ambos nos ensinem a não nos
escandalizarmos das chagas de Cristo, a penetrarmos no mistério da misericórdia
divina que sempre espera, sempre perdoa, porque sempre ama.
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